Recebidos de Outubro

Via Apia
Geovani Martins

Cinco jovens têm a vida abalada quando a polícia invade a Rocinha para instalar uma UPP. Esse é o evento central do aguardado primeiro romance do autor de O sol na cabeça.
Depois de estrear na literatura com a coletânea de contos O sol na cabeça e alçar de imediato a condição de ponta de lança da ficção brasileira, com forte repercussão internacional, sendo publicado por grandes editoras em mais de dez países, Geovani Martins publica seu primeiro romance ― Via Ápia. Nesta engenhosa narrativa sobre os impactos da instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na vida dos moradores da Rocinha, a trama é dividida em três partes: a expectativa com relação à invasão; a ruidosa instalação da UPP; e a silenciosa partida da polícia e a retomada dos bailes funk que fazem o chão da favela tremer. Em capítulos curtos, que trazem perspectivas cruzadas, o narrador nos conduz pelas vidas dos cinco jovens protagonistas ― suas paixões, amizades, dramas pessoais, ambições, frustrações, sonhos e pesadelos.
Brilhante nos diálogos e mestre na narrativa, Martins é também certeiro no diagnóstico dos efeitos perversos da guerra às drogas. Ao enviar sua tropa de choque para a Rocinha, o Estado parece apresentar uma única resposta aos problemas do Brasil: a morte. A resposta dos moradores é bem outra: a vida, sempre ela, é o que faz a favela pulsar

Ideias para adiar o fim do mundo
Ailton Krenak

Uma parábola sobre os tempos atuais, por um de nossos maiores pensadores indígenas.
Ailton Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, um lugar cuja ecologia se encontra profundamente afetada pela atividade de extração mineira. Neste livro, o líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma “humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”.
Essa premissa estaria na origem do desastre socioambiental de nossa era, o chamado Antropoceno. Daí que a resistência indígena se dê pela não aceitação da ideia de que somos todos iguais. Somente o reconhecimento da diversidade e a recusa da ideia do humano como superior aos demais seres podem ressignificar nossas existências e refrear nossa marcha insensata em direção ao abismo.
“Nosso tempo é especialista em produzir ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar e de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta e faz chover. […] Minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história.”
Desde seu inesquecível discurso na Assembleia Constituinte, em 1987, quando pintou o rosto com a tinta preta do jenipapo para protestar contra o retrocesso na luta pelos direitos indígenas, Krenak se destaca como um dos mais originais e importantes pensadores brasileiros. Ouvi-lo é mais urgente do que nunca. Ideias para adiar o fim do mundo é uma adaptação de duas conferências e uma entrevista realizadas em Portugal, entre 2017 e 2019

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