Ensaio Sobre a Cegueira (José Saramago)

É uma obra de leitura complexa, seja pelo português europeu, seja pelo estilo desorganizado dos parágrafos. Por várias vezes precisei voltar para entender o que é narrativa e o que é diálogo. E, afinal, quem está a falar com quem?

A cegueira da ficção é branca. Me lembro das aulas de educação artística, nas quais descobrimos, com a ajuda do círculo de Newton, que a cor branca é formada pela overdose das outras cores.

Da mesma forma, entendi a cegueira como uma metáfora muito atual. Essa cegueira branca não é causada pela falta do que se ver, mas pelo excesso.

Todos os dias somos assolados por toda a sorte de notícias, dados, informações, opiniões, só que tudo isso bagunçado não forma conhecimento. É como se nós não tivéssemos nada, pois não sabemos no que acreditar, mal sabemos para onde olhar.

O livro mostra uma epidemia repentina de cegueira e, por meio da perda deste sentido tão valioso, os humanos passam a perder, paulatinamente, a sua dignidade.

Primeiro, a higiene. As pessoas vivem, literalmente, em um mar de merda.

Depois, o amor próprio. No momento em que um clã de cegos passa a fazer exigências para os que querem comer, mulheres chegam ao ponto de se organizar para se oferecer a um estupro coletivo simplesmente para terem alimento.

Por fim, o que se vai é o senso coletivo. Pessoas de bom coração tornam-se assassinas quando suas necessidades básicas estão ameaçadas.

Todavia, em meio a toda essa confusão, o livro mostra o surgimento de um amor genuíno e improvável (eu diria impossível não fosse a cegueira).

Também mostra um escritor que encontrou sua forma de trabalhar em meio à cegueira.

Vivemos em um mundo que está cego para muitas coisas. Pense na política, por exemplo, e veja quantas pessoas seguem a apoiar ideias doentias, para dizer o mínimo. Seria muito dizer que estas pessoas vivem em uma cegueira moral? Na boa, 2200 toques é muito pouco para falar sobre este livro. Nota 10!

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